segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Capítulo 11 - Loucura
Impressionante e realmente fascinante é o cérebro humano, residência central da alma; arquivo do nosso passado, nascedouro de toda a criatividade humana, sede de toda felicidade e alegria, quando isento de conflitos.

Mas a maioria de nós não faz outra coisa senão deteriorar a capacidade mental através da deturpação das forças e energias que recebe da bondade Divina.


 É um fato corriqueiro, que muito pouco nos chama a atenção e, quando chegamos a vê-lo acontecendo com nossos irmãos, procuramos as causas dessas
infelicidades e dores em agentes externos, como as anomalias físicas, ou na ignorância de nossos irmãos
obsessores. Dificilmente paramos para pensar que o caminhar da natureza cósmica é no sentido do
aperfeiçoamento de todas as suas manifestações, incluindo também o homem. Mas quase nunca o homem olha para dentro de si e reconhece que é em si mesmo que reside a fonte de seus próprios males e infortúnios.


Meditando sobre esses fatos, iniciei a aula teórica em que estudamos o cérebro humano. Vimos que o
cérebro físico é idêntico ao perispiritual. Numa aula difícil, estudamos as partes do cérebro e seus respectivos nomes. Montamos um cérebro de ”plástico” para termos a real idéia de como é formado. 


Impressionante e maravilhoso é o cérebro humano. Aprendemos os nomes complicados das doenças que o atingem e seus sintomas.

Vimos filmes sobre doenças mentais e também sobre doentes. Estudamos e vimos a loucura sem a
obsessão. O motivo por que a obsessão é a causa de muitas doenças e loucuras, estudaríamos posteriormente.


As doenças mentais são quase todas de origem espiritual. Estão ligadas a um passado cheio de erros. Muitos doentes recordam total ou parcialmente, de forma confusa, existências anteriores e perturbam o cérebro, que, predisposto a adoecer pelas muitas maldades que fizeram, não consegue se equilibrar.


Recordações do passado não prejudicam pessoas equilibradas e que já quitaram suas dívidas ou o carma negativo.

Tivemos uma aula interessante na qual aprendemos a nos concentrar em outras mentes e saber o que
estão pensando ou o que está se passando. 


Aprendemos para ajudar. Só podemos ler com a permissão de quem estamos pesquisando, ou quando este está muito necessitado de ajuda. A mente perturbada é fácil de ler, porque seus pensamentos estão fixos em determinado assunto. Claro que só com estas aulas não iríamos sair lendo pensamentos. 

Mas era um início. Para desenvolver esse processo com perfeição, leva-se tempo e é necessário prática. Este estudo serviria apenas para ler os pensamentos dos doentes e ajudá-los. Temos que nos concentrar na mente do outro, e o que ele pensa vem à nossa mente. No começo líamos de forma incerta, pedaços somente, depois com o treino fomos nos aperfeiçoando. De desencarnado para desencarnado é mais fácil. Depois aprendi a ler a mente dos encarnados. Mas só faço isso para uma ajuda, nunca por curiosidade.

Depois, como já disse, a mente perturbada é mais fácil. Em doentes mentais os pensamentos são sempre muito confusos.


Na aula prática, fomos ao hospital da Colônia. Os doentes perturbados ficam no hospital em alas
separadas.


Dentro dessas alas ainda são isolados, dependendo de seu estado. Esses socorridos, é claro, não
estavam obsedados, mas muitos tinham sido quando encarnados.


Visitamos primeiramente os que se encontravam Ia em recuperação. A enfermaria é grande, com
muitas janelas, leitos, cadeiras, algumas mesas com flores, quadros na parede e cortinas nas janelas. Era uma enfermaria feminina. As doentes usam roupas brancas, vestidos ou conjuntos de calças compridas e camisas.


A primeira impressão que se tem é que estão bem, não têm dores, mas, em algumas, os olhos são um
tanto parados, em outras, inquietos. Umas falam muito, outras são quietas. Receberam-nos bem, gostam de conversar e falar de seus problemas.


Recebemos orientação e permissão para tentar pôr em prática o que aprendemos sobre a leitura da mente. Fomos até lá para conversar com as doentes, tentar ajudá-las com conselhos, dar passes e convidá-las a orar conosco.

Fui conversar com uma mocinha que parecia estar com quinze anos, mas tinha vinte e três.


- Você quer me escutar mesmo? - Interrogou-me. - Posso contar minha vida a você?


- Claro que pode. Fale o que quiser - respondi.


- Eu era uma boa moça, ou todos pensavam que era.


Honesta e trabalhadeira, ajudava minha mãe,
viúva, a costurar para as freguesas. Comportava-me um tanto estranha, maníaca, mas nada sério. Tinha vinte e dois anos, não arrumava namorado e acabei apaixonada por um homem casado, passando a encontrar-me com ele às escondidas. Fiquei grávida. Ele não queria nada comigo; arrumou e pagou para que fizesse aborto.


Temendo os comentários maldosos e minha mãe, fiz o aborto. Ninguém ficou sabendo, mas depois desse
gesto fiquei doente. Tornei-me louca e fui internada num sanatório, onde desencarnei após um tratamento de choque. Sofri muito, fui perseguida por um espírito inimigo de outra existência. Esse espírito, tentando reconciliar-se, ia nascer como meu filho e eu o abortei. Não me perdoou, o ódio voltou mais intenso e me perseguiu pelo Umbral.


Depois de algum tempo fui socorrida. Agora estou bem.

Observando-a, vi que ela fora um espírito endividado que, na encarnação anterior a esta, muito errou e, quando desencarnou, sofreu muito no Umbral e acabou perturbada. Fez um tratamento e reencarnou. Na vida física, após novo erro com o aborto, seu cérebro desarmonizou-se e o obsessor conseguiu deixá-la doente. Se não errasse nesta, não iria adoecer. 


Assim, vimos casos em que os obsessores esperam uma oportunidade, como novos erros e desequilíbrio sentimental, uma dor como a da desencarnação de entes queridos, que baixa a vibração, para poder atuar.

Esses doentes gostam tanto de atenção que, às vezes, querem nos narrar tudo de novo, querem que
fiquemos perto e lhes dediquemos atenção. A moça agarrou a minha mão.


- Deixe-me ficar mais perto de você, sinto-me bem! 


Deixe! Naquela hora, ninguém estava no leito.

Isabel, assim se chama, e eu estávamos sentadas nas cadeiras perto de sua cama. Alguns colegas meus e
alguns doentes saíram para o pátio defronte à enfermaria, que tem muitos canteiros floridos. 


Apiedei-me dela e a convidei a ir comigo conversar com uma senhora que há tempo nos olhava sorrindo. Fomos, Isabel ficou quieta, só escutando, mas não largou minha mão. 

Após os cumprimentos, a senhora pôs-se a falar:

- Filha, estou doente, mas não sou louca como dizem. Engraçado, aqui não me chamam de louca, mas no outro lugar, sim (referia-se ao período de encarnação). Sou uma baronesa, falo, falo e ninguém acredita.


Tenho casa grande, bonita, empregados e escravos, mas moro nesta tapera feia, com pessoas que dizem ser meus parentes.


Tenho roupas bonitas e visto-me assim, com as feias. Já nem sei quem sou. Sou Maria? Ou Carmela?


Que confusão. Quem você acha que sou? (Falava, mas não esperava resposta.) Sou as duas, ou nenhuma.


Dizem que fui Carmela, morri ou desencarnei e nasci ou reencarnei como Maria. Mas todos são um só. Por que sou duas?


Queria ser Carmela, que se vestia bem, alimentava-se bem, era bonita e rica.


- Não gostava de negro? - Indaguei. - Maria é negra.


- Não, tenho horror, são sujos e burros. Mas sou negra, não vê? Não era e fiquei.


Tentei explicar que, na existência anterior, foi Carmela, e que teve o corpo morto, depois reencarnou como Maria.


Ela repetiu sua história novamente. Dei-lhe um passe e ela se acalmou. Ali estava um caso de
recordação fora de hora, fruto verde. Talvez tenha relembrado pela ação de algum obsessor, querendo
perturbá-la. Ou ela mesma, fascinada com a encarnação como Carmela, não esqueceu, e as lembranças confundiram-na quando voltou como Maria, numa encarnação de que não gostava e repeliu, por ser pobre, feia e negra, raça que detestava.


Íamos para outra enfermaria. Isabel me soltou chorando e querendo que prometesse voltar para vê-la.


Disse-lhe que faria o possível. Tinha pouco tempo livre e precisava fazer coincidir meu horário livre com o de visita. Quando terminou o curso, fui revê-la. Já estava bem melhor. Sorriu ao me ver, conversamos muito.


Queria reencarnar, havia pedido, mas os instrutores disseram que ela tinha que ficar mais tempo no plano espiritual. Convidaram-na para estudar. Incentivei-a, Isabel é analfabeta. Falei da escola com carinho, ela ficou entusiasmada. Lá ela aprenderia o Evangelho, a Moral Cristã, que muito bem lhe fariam.


Essas enfermarias que vimos são de doentes que, encarnados, tiveram anomalias mentais. No plano
espiritual há muitas enfermarias de doentes que, encarnados, foram sadios e, ao desencarnarem, perturbaram-se com o sofrimento ou o remorso.


Fomos a uma enfermaria masculina. Quando entramos, um senhor me olhou fixamente e disse:


- É você!


Assustei-me, e Frederico foi até ele. Ela o quê?


É linda! Zé me disse baixinho:


- Aí, Patrícia, fazendo sucesso até por aqui!


Frederico ficou conversando com ele, que, enquanto estivemos lá, olhou muito para mim.


Outro fato interessante aconteceu nessa enfermaria.


Um doente confundiu Nair com outra pessoa que
fora sua amiga. Pegou em sua mão e não soltava. 


Frederico e Raimundo tiveram de prostrá-lo com um passe para que largasse a mão dela.

Fui conversar com um velhinho. Após os cumprimentos começou a falar:


- Fui um caçador, morava perto de uma pequena floresta. Atirava bem. Um dia, por acidente, matei
um outro caçador. Temendo as conseqüências, coloquei a arma na mão dele como se ela tivesse disparado.


Deu certo e o fato foi dado como acidente ou suicídio. Passados uns anos, minha filha queria casar com um sujeito mau, vagabundo e cínico. Sem ninguém saber, marquei uma caçada com ele, dizendo que era para conversarmos sossegados. 


Atirei nele e fiz como da outra vez. O acidente teve suspeitas, mas como não houve provas ficou por isso mesmo. Mas esse espírito me obsediou até que fiquei perturbado. 

Meus familiares diziam que estava caduco. 

Desencarnei e sofri muito. Já faz tempo que estou no hospital.

Acabou de falar, abaixou a cabeça e ficou triste, animei-o; depois sorriu para mim.


- Como é bom ter a consciência tranqüila!


Fui conversar com outro senhor que, logo depois de conversarmos um pouco, narrou sua história:


- Na encarnação anterior a esta, fui à guerra, matei muitos homens e cometi maldades com os
prisioneiros.


Reencarnei em outro país, era pobre e trabalhador. Mas alguns inimigos me acharam e ficaram
esperando uma oportunidade: se eu cometesse algum erro ou baixasse minha vibração, iriam obsediar-me.


Apaixonei-me por uma moça rica que nem sabia que eu existia. Criei coragem e confessei-lhe meu amor, mas ela riu de mim. Tomei veneno, só que não morri, fiquei mudo. Passado algum tempo, minha mãe desencarnou. 


Aí senti muito e perturbei-me Acabei sendo o mudo-bobo. Vivi anos assim, sozinho numa casinha, a pedir esmolas. Com o tempo os obsessores foram embora, sei que foi minha mãe que fez com que eles me perdoassem.

Desencarnei e fui socorrido, porque sofri resignado por muitos anos.

 Estou aqui há pouco tempo. Tenho ainda as ”idéias” confusas. Às vezes, lembro-me da guerra e grito.

Mas, graças a Deus, estou melhorando, e estar falando novamente é bom demais.

Chegou a dormir, quando recebeu o passe.


Fomos ver os que dormiam em pesadelos. 


Formamos equipes de cinco, para dar passes em cada um deles. Ao orarmos, às vezes víamos seus pesadelos.

Uma senhora sentia falta do seu obsessor a quem estava ligada pelo ódio e pela paixão. Queria-o e
chamava-o sem parar. Um enfermeiro nos disse que o espírito que a obsedara ficou no Umbral, não quis o socorro.


- Ele sente chamá-lo? - Indagou Laís ao enfermeiro.


- Não, a distância é grande e as vibrações muito diferentes. Lemos os pesadelos de um senhor que
teve a tara do sexo e, para se satisfazer, matou duas crianças.


Vimos também uma senhora que matou, afogada, uma criança, menina de dois anos, para vingar-se
da patroa.


Ninguém descobriu, e deram o fato por acidente. Mas um dia o remorso veio e ela passou a sofrer
muito.


Tudo muito triste de ver. Erros, remorsos e sofrimentos podem perturbar alguém e, quando
encarnado, pode vir a ter uma das doenças mentais como reação...


Viemos à Terra por poucas horas e fomos visitar um sanatório. Desta vez, viemos só para ver casos
de loucura sem obsessão. Nossas visitas ajudam os doentes: fazemos círculos de orações e damos passes.


Quase sempre esses doentes manifestam suas doenças quando cometem erros; sentem uma dor maior, têm que enfrentar as responsabilidades ou são acolhidos por acontecimentos desagradáveis.


Vimos nesses encarnados as doenças de que eram portadores e seus sintomas.

Não tivemos muito que debater na aula de conclusão. Só Luís perguntou:


- As doenças mentais são hereditárias? - A hereditariedade pode dar aos indivíduos as tendências físicas. Mas, quase sempre, reencarnam
com espíritos afins e tantas vezes quantas as que participam de erros em conjunto. Pode ser que erraram juntos e, por isso, resgatam juntos. Quando o espírito se equilibra, o cérebro físico também será equilibrado.


Foi bom para todos nós esse estudo.

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