terça-feira, 12 de setembro de 2017

Capítulo 9 - Causa E Efeito
A aula teórica sobre causa e efeito, ou causas dos sofrimentos, foi muito movimentada. Todos tinham exemplos e histórias para contar.

Frederico abriu a aula fazendo uma bela dissertação:


- Somos herança de nós mesmos. Somos o que construímos. Se almejamos melhorar, temos que fazê-lo agora, no presente. Veremos, neste estudo, pessoas que sofrem, estão sentindo o efeito, e estudaremos a causa. Toda causa produz um efeito. 


Causas boas, efeitos bons; causas ruins, efeitos negativos. Na Terra, são poucos os que chegam às universidades; para uma minoria, o carma negativo é anulado pela transformação interior, pelo trabalho no bem, reparando erros corri acertos. É o fazer pelo sofrer.

Mas, para a maioria, o carma negativo é eliminado pela dor.

Fez, paga: porque quase todos pensam assim, e deve ser assim até o amadurecimento, para o espírito entender.


Para resgatar erros, reparando-os, é preciso muita sinceridade. Deixar o que se tem que fazer para o
futuro é adiar; adiamento esse que nem sempre é possível, pois o abuso traria piores conseqüências. 


E importante crescermos com compreensão. A oportunidade de crescer pelo amor todos temos; se a perdermos, a dor, sábia companheira, vem nos impulsionar. 

Reparar erros pelo amor, pela transformação interior, é assunto das Colônias de Estudos, para os que querem continuar aprendendo. Assim os que estiverem interessados podem, após o curso, continuar a estudar, aprofundando-se no tema.

”Quando encarnado, muito errei, mas compreendi o erro, e essa compreensão fez com que trabalhasse
na Medicina com muito amor. Usei meus conhecimentos médicos para o bem de todos que me procuravam.


Troquei o resgate do sofrimento pelo trabalho em prol de outros e pela minha transformação interior.”


”Na última passagem pela Terra, conheci Patrícia. 


Ela vivia encarnada na sua penúltima encarnação.
Essa amiga errou, sofreu, e pediu para reencarnar. 


Planejou desencarnar jovem após longa doença. Mas isso não se deu; regressou jovem ao plano espiritual, mas não esteve doente. Sua vivência no bem, sua modificação e realização interior anularam o carma negativo, e ela não necessitou do sofrimento das doenças para ajustar-se. Modificou o efeito. Isso é possível, mas é preciso que seja realmente sincero, e essa modificação, essa realização, seja verdadeira.”

Enquanto Frederico falava, senti que era verdade, senti que ficaria doente por muito tempo, piorando
sempre. Esse sofrimento seria uma reação, mas que foi modificada. Não necessitei sofrer para vencer.


Frederico continuou a explicar:


- O corpo perispiritual e o corpo material formam uma composição harmoniosa de energias. Quando
agimos egoisticamente, desequilibramos esta composição vibratória no espírito e no corpo. Há então decomposição ou doença. Vendo o erro, o espírito quer repará-lo e, para tanto, tem que mudar sua maneira de viver, não externamente, mas com profunda compreensão. A dor, quando compreendida, transforma o indivíduo na sua maneira de agir. Mas, se não compreender, a dor pode induzi-]o à revolta, e poderá acontecer maior acúmulo de desequilíbrio, ou dívida.


Frederico deu uma pausa; todos nós prestávamos atenção na exposição que desenvolvia. Com
sabedoria completou:


- As reações, os efeitos, podem ser tanto para a felicidade como para o sofrimento. Uma pessoa que
viveu no bem tem logo ao desencarnar a reação de um socorro, da felicidade no plano espiritual.


”Os efeitos do bem, que trazem paz e harmonia, não precisam ser modificados. Já os do sofrimento
podemos, pelo livre-arbítrio e vontade, anular ou suavizar. Mas nosso estudo é sobre os efeitos pela dor, pelo sofrimento.”


Todos nós poderíamos falar, dar opiniões e contar a própria história.


Murilo foi o primeiro:


- Quando encarnado, tive o braço e a mão direita sempre com feridas. Quando elas secavam,
deixavam meu braço negro. Doía muito. Sofri com isso, desde menino até minha desencarnação. Só depois de algum tempo socorrido, internado em um hospital na Colônia, foi que sarei. Há pouco tempo pude saber o porquê da minha doença, que nada e ninguém conseguiu curar. Na minha outra existência fui um coronel  orgulhoso e surrei vários negros escravos por serem preguiçosos. Desencarnei, sofri muito, e culpava o braço e a mão que seguraram o chicote.


Reencarnei sentindo-me culpado e uma doença veio queimar os fluidos negativos que eu mesmo gerei
pelo remorso.


Lauro também contou sua história:


- Encarnado, desde pequeno tive asma; por toda minha existência tive crises, que muito me
incomodavam, e sofri.


Era pobre, meus pais desencarnaram e tinha de trabalhar para me sustentar, já que meus irmãos,
igualmente pobres, não podiam cuidar de mim ou me sustentar. As crises faziam com que faltasse ao trabalho e fui muitas vezes despedido. Sentia muita falta de ar; quando ficava muito mal, internava-me em hospitais, e foi numa dessas vezes que desencarnei, sendo enterrado como indigente. Mas fui resignado, sentia que era merecido meu sofrimento. Muitas vezes chorei, mas não me revoltei. Desencarnei e fui socorrido, porque todos os que sofrem com resignação, como eu, têm a bênção de um socorro. Isso se a pessoa foi boa. 


Tive que ficar internado num hospital para tirar a impressão da doença que tanto me afligia. Há algum tempo soube que fui suicida na existência anterior. Por motivo bobo, danifiquei o corpo perfeito, destruindo-o imprudentemente. Suicidei-me por um amor não correspondido. Atirei-me num rio fundo, morrendo afogado.

Lauro emocionou-se ao narrar. D. Isaura aproveitou para dar alguns esclarecimentos:


- Nem todas as reações, efeitos, têm causas semelhantes. Nem todos que sofrem de asma agiram
como Lauro. Os motivos são muitos para se ter uma existência com falta de ar.


Laís também quis falar:


- Encarnada, fui casada com uma pessoa boa. Tentei tudo para ter filhos e não consegui. Vivi
frustrada e desejosa de ser mãe. Depois de um tempo desencarnada, querendo saber o porquê de não ter tido filhos, soube que na existência anterior fiz muitos abortos, somente porque não queria deformar meu corpo.


O companheiro fora também o mesmo desta existência e me incentivava a abortar.


- Laís - Nair perguntou -, você quitou o carma negativo que você mesma gerou? Você se sente em paz a este respeito?


- Sofri e aprendi pela dor a dar valor à maternidade. Mas poderia ter adotado crianças órfãs por filhos.


Se tivesse feito isso, teria anulado pelo amor o efeito negativo que criei. Talvez viesse a ter, nesta mesma encarnação, filhos.


Quando amamos filhos alheios como nossos, estamos modificando a reação. Infelizmente não soube fazer isso.


Fui egoísta.


James narrou o que se deu com ele:


- Quando estava com quarenta anos, fiquei surdo. É bem triste não ouvir nada. Trinta anos fiquei sem
escutar som algum. Também sofri um derrame que me fez ficar num leito anos seguidos. Tive muitos filhos, mas só uma filha cuidou de mim. Nesta encarnação fui bom, honesto e trabalhador. Penso, ou tenho certeza, que sofri pelos erros de outras existências.


Mas não tive coragem de recordar. Talvez porque não tenha quitado tudo. Por isso estudo, quero quitar o resto, anular os efeitos dos meus erros, empenhando-me no trabalho do bem, na minha transformação interior.

Todos estamos envolvidos por histórias deste tipo.


Quase todos falavam de si, como Glória:

- Logo na adolescência fiquei doente, tinha acessos, desmaios, em que me debatia e babava. Sofri
muito e constantemente passava vexames e dava espetáculos. Era só sair de casa para ter esses acessos. Saía, ficava nervosa e eles vinham. Era muito católica.


Muitas vezes tive essas crises nas missas, e o pároco me disse, tentando ser gentil, que estava dispensada de assistir à missa. Mas gostava tanto de ir, de rezar, e fiquei
muito triste. As pessoas tinham receio do contágio e, muitas vezes, caí na rua e lá fiquei. Éramos pobres, mas enquanto tive mãe encarnada estava protegida.


Quando ela desencarnou, fiquei com meus irmãos, cada época com um. Sentia que não era bem aceita. Mas não tinha para onde ir, e compouco estudo, não conseguia arrumar trabalho. Já tinha quarenta anos quando passei a tomar remédios mais fortes e modernos, e os acessos abrandaram. Desencarnada fui socorrida, porque sofri com resignação e nada fiz de errado.

Soube que vivi os primeiros anos encarnada obsediada. E que foi minha mãe desencarnada que tudo fez para que eu fosse perdoada. Na existência anterior, fora um rico senhor de escravos, pratiquei muitas maldades e não fui perdoado por três espíritos, que me acompanharam, vingando-se. Depois de anos, eles se cansaram porque, orando sempre, fiz com que não conseguissem me atingir muito. Mas, pelos meus próprios erros, sofri.

Hoje estes três espíritos estão encarnados, e os ajudo sempre que posso.


Luíza disse:


- Na última encarnação, tive uma doença que me fez ficar com as pernas defeituosas, andava com
dificuldade.


Desencarnada vim a saber que na existência anterior suicidei-me, atirando-me em um precipício,
danificando meu corpo que era perfeito.


D. Isaura voltou a afirmar que as reações nem sempre são iguais, embora as ações sempre resultem
numa reação.


Raimundo deu uma aula interessante de como a reação acontece. Ao fazermos o mal, o erro fica
registrado em nós. É como colocarmos a mão num metal quente, e a dor virá como reação, na hora, após meses, ou séculos. Só que poderemos, nesse intervalo entre o ato e a reação, cortar esse efeito ou suavizá-lo com amor verdadeiro, com trabalho desinteressado no bem e com a modificação interior.


Vimos filmes de países onde muitos desencarnam de fome, seja pela seca ou pela guerra. Vimos a
reação de muitas pessoas, em grupos afins, que necessitam desse doloroso aprendizado para dar valor aos acontecimentos simples, à fraternidade e à honestidade. Muitas pessoas sentiam o efeito da ação nefasta de usar o cofre público indevidamente.


O que usou a guerra para fazer maldades, acumular fortunas.

Observamos também pessoas que cometeram muitos erros e marcaram seus perispíritos com tantos
fluidos negativos que, além de ir por afinidade para o Umbral e lã sofrer por anos, ao reencarnar passaram para o corpo físico esses fluidos como doenças, para se purificar.


Nem todo sofrimento é por reação negativa; às vezes, não aproveitando as lições de amor para
progredir, a dor nos obriga a caminhar. Porque é através, quase sempre, da dor que procuramos Deus, uma religião, a modificação interior, e fazemos a troca de vícios por virtudes.


Foi muito proveitosa a aula teórica.

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