segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Capítulo 20 - Agradecimentos
  
O dia amanheceu lindo, como todos os dias na Colônia. Ia acontecer nossa última aula: realizado estava nosso curso.

Fiquei pensativa. Em minha tela mental apareceram, como num filme, os acontecimentos com que convivemos. Uma emoção carinhosa brotou em minha alma. Amava todos e, naquele instante, senti que não era uma afeição igual para todos.

 Mentalizei um de cada vez e vi jubilosa que Deus, ao nos criar, não fez cópias, mas nos deu a capacidade de amar indistintamente, vendo realçar em cada um seus valores especiais. Em um, amava em especial sua espontaneidade; em outro, a capacidade de abnegação; em outro, a simplicidade; noutro, a bondade; e em muitos, a inteligência. Assim, as qualidades natas de cada um resplandeciam aos meus olhos. E pareceu-me que o amor, olhando dessa forma, se multiplicava dentro de mim, muito embora não houvesse como medi-lo.

Ao me lembrar dos professores, senti um respeito profundo. De que forma poderia demonstrar minha
gratidão por tudo o que me fizeram, por todos os conhecimentos de que foram portadores e nos transmitiram?


Agradecimentos? Não! Era muito pouco pelo tanto que nos fizeram. Não havia pagamento para esse
tipo de bem adquirido, o mínimo que poderia fazer era tê-los como exemplo. Daqui para a frente, todos os meus pensamentos e atitudes seriam baseados nas virtudes que eles demonstraram, durante o período em que estivemos juntos.


Meu coração transbordava de amor e afeição, estava feliz. Não a felicidade que, na matéria,
procuramos como sinônimo de poder, facilidades e ociosidade. A felicidade que sentia tinha como fruto o desejo ardente de trabalhar, servir, amar intensamente todas as manifestações de meu Deus, pois Ele é tudo para mim, e eu O via em todos os meus amigos, irmãos e instrutores.


Começaram as despedidas, senti profundamente. 


Alguns do nosso grupo mudariam de trabalho,
entusiasmados com outras formas de servir. Todos os pedidos de mudança foram aceitos, deixando-nos
contentes. Somente Lauro, Laís e eu continuaríamos a estudar. Só que iríamos nos separar também. Os dois iriam para uma Colônia de Estudo, e eu, para outra.


- Que irá fazer, Patrícia? - Indagou Nair.


- Passarei os dias que tenho livre com vovó e a visitar meus familiares. Depois, volto a estudar.


Anseio por aprender e conhecer.


Memorizei a conversa que tive com meu amigo Antônio Carlos.


- Patrícia disse ele -, irei acompanhá-la a uma Colônia de Estudo, onde fará um curso mais profundo do plano espiritual e do Evangelho.


Falou entusiasmado dessa Colônia.


- É linda, nela encontrará grandes amigos. É mais uma etapa; depois, quero levá-la à Casa do Escritor.


Local onde estudará, aprenderá a ser uma literata, para ditar aos irmãos encarnados tudo o que vê e aprende.


- Gosta muito da Casa do Escritor, não é? 


- Indaguei.

- Sim, amo diletamente esse local. É uma Colônia onde irmãos que amam aprender e ensinar se unem
em esforço mútuo na divulgação da boa literatura. 


E maravilhosa!

Na sala de aula, conversamos cerca de meia hora, contentes e tristes ao mesmo tempo. Todos sentiam
o término dos estudos. Mas estávamos contentes por tê-lo concluído. Ninguém poderia dizer que era o
mesmo de antes, sentíamo-nos enriquecidos.


D. Isaura e Raimundo logo iriam receber outra turma. Frederico voltaria a sua Colônia de Estudo,
onde lecionaria determinada matéria no curso de Medicina.


- E Flor Azul?


Ao ser lembrado, esse amigo entrou na sala.


- Peço licença para estar junto de vocês nestes últimos momentos.


Abracei-o demoradamente. Ensaiei antes um agradecimento formal, mas emocionada só consegui
dizer:


- Obrigada!


Sorriu com delicadeza e enxugou no meu rosto as duas lágrimas teimosas que saíram dos meus olhos.


- Agora, Flor Azul de Patrícia, volto ao meu trabalho habitual, em tempo integral. Com muito lucro, fiz mais amizades. Abraçamo-nos e prometemos nos ver. Raimundo pediu silêncio. Não era, o nosso amigo instrutor, de muito falar. Com um sorriso nos
lábios, nos olhou carinhosamente:


- Amigos, agradeço-lhes por terem feito deste estudo um ótimo aprendizado, por terem feito deste
trabalho uma ajuda a outros irmãos. Conhecimentos adquiridos são nossos bens, tesouros que nos
enriquecem. Foi um prazer conviver com vocês. 


Espero que coloquem em prática o que aprenderam nestes meses de convivência. Estamos em condições de ajudar, é maravilhoso. Agora vamos unir nossos
pensamentos em agradecimentos ao Pai, a quem tudo devemos.


O agradecimento deve ser dentro de cada um.


Calou-se por instante, deixando que nosso agradecimento fosse particularizado.


”Pai, agradeço por tudo” - pensei -, ”por tudo mesmo. Sou tão feliz, tenho recebido tanto, ajude-me a ser sempre digna de continuar recebendo”.


Raimundo, com voz emocionada, orou o Pai-Nosso.


Em seguida, demos vivas, com alegria. Feliz, por ter encerrado mais uma etapa, outro curso dos
muitos que ansiava fazer.


Fim.

Nenhum comentário:

Postar um comentário