terça-feira, 12 de setembro de 2017

Capítulo 6 - Desencarnação
Começamos a aula teórica narrando nossas próprias desencarnações. Todos, de fato, têm uma interessante história para contar. Ninguém teve a desencarnação da mesma forma, embora seja natural e para todos.

Narrei a minha, em poucas palavras:


- Desencarnei por aneurisma cerebral, nada vi ou percebi; para mim, foi como dormir e acordar entre
amigos. Adaptei-me logo, era espírita, e este fato ajudou-me muito.


- Veio com diploma! - Exclamou Ivo brincando. 


- Sabia o que ia lhe acontecer e o que ia encontrar. 

É bem esperta!

- De fato - respondi -, quem tem religião interiormente e vive de acordo com o Evangelho é esperto!


O Espiritismo bem compreendido educa para a continuação da vida.


- Acha, Patrícia, que, pelo fato de você ter sido espírita, teve e tem recebido muito aqui no plano
espiritual? - Perguntou Zé, também referindo-se ao fato de Flor Azul nos acompanhar nas excursões por minha causa.


- Zé, o Espiritismo proporcionou-me um ambiente propício para realizar-me interiormente. Segui
realmente a Doutrina de Allan Kardec, vivi o Evangelho de Jesus.


D. Isaura interrompeu delicadamente:


- Patrícia enquadra-se bem num dos ensinamentos de O Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo
XVIII - Muitos os chamados e poucos os escolhidos. No item doze, que nos diz: "Aos espíritas, portanto, muito será pedido, porque muito receberam, mas também aos que souberam aproveitar os ensinamentos, muito lhes será dado".


Zé narrou a sua desencarnação:


- A minha desencarnação foi o máximo, é de morrer de rir. Morri de susto. Verdade! Estava bem,
pelo menos nada sentia. Um dia um amigo e eu fomos dar um passeio de carro. Ao atravessar a linha do trem, o carro parou, enguiçou e nada de pegar. Nisso o trem vinha vindo. Meu amigo correu para fora do carro. A aflição fez-me ficar parado. 


Meu amigo gritou para que eu saísse e, como não saí, ele voltou e tentou de novo fazer o carro pegar, até que pegou, e saiu um segundo antes que o trem passasse.

"'Que susto hein, Zé!'


"Nada de responder. Meu coração simplesmente parou, fazendo-me ter morte instantânea. Na
verdade, só escutei meu amigo falando, depois perdi os sentidos. Meu espírito adormeceu. Acordei sozinho, estava caído perto da linha do trem. Não senti nada, levantei e fui para casa. Lá, uma choradeira total. 


Entrei e outro susto. Vi-me no caixão. Senti-me mal e ninguém ligou. Confuso, fiquei a pensar: 'Morri? 

Fiquei louco? Foi um outro sujeito parecido comigo que morreu?' Mas ninguém me via. Resolvi apelar. Na hora do aperto, como sempre, recorre-se a Deus. Comecei a gritar a Deus, pedindo perdão e socorro.

Senti ser chacoalhado. 'Calma, Zé, que escândalo!'

Era minha mãe que já desencarnara há tempo. 

'Mãe' - disse gritando -, 'me socorre! Morri ou estou louco?' 

'Calma, filho, tente se acalmar'. A senhora é assombração?'  - perguntei mais calmo. 

'Não, sou sua mãe, que muito o ama. Não tenha medo, vou ajudá-lo.' Mamãe levou-me para um canto da casa onde não havia ninguém e voltou à sala, onde estava o caixão com meu corpo, para acabar de desligar-me dele. Dois amigos passaram perto de mim e comentaram: 'O Zé deve estar contando piadas a São Pedro'. O outro respondeu:

 'Morreu de susto, isto é jeito de morrer?'

'Piadas a São Pedro' - pensei -, 'estou passando um tremendo aperto'. Aí, um grupo de senhoras começou a orar, senti-me melhor e mais calmo, foi me dando sono. 'Venha, Zé!'- disse mamãe. Acomodei-me nos braços dela e dormi. 

Acordei e pensei ter sonhado, mas logo me certifiquei de que tudo era verdade. Sempre fui muito alegre e católico freqüentador da igreja. 

Aceitei bem o fato e tratei de me acostumar à nova vida: logo estava trabalhando e hoje faço este curso para melhor servir."

- Eu fui ateu! - Iniciou Ivo. - Ateu convicto de que estava certo. Achava, quando encarnado, que tudo
era pelo acaso. Deus era uma personalidade inventada para aterrorizar os ignorantes. Não existia nada além da morte do corpo. Fiquei doente, uma grave doença que me acamou; aí, às vezes, me perguntava: "Será que estou certo?" Fiquei com medo e julguei que a doença é que me dava temor. A idéia do suicídio veio, porém repeli, não era covarde, agüentaria o sofrimento.


Resolvi esperar pelo fim. Não acreditar em nada é triste, não se tem consolo e, pensando que acabamos, dá uma sensação agoniada.

"Não percebi minha desencarnação. Continuei muito tempo agindo como doente no hospital, sentindo o abandono dos meus familiares. Depois, fui retirado do hospital por espíritos brincalhões e levado ao cemitério. Falaram que morri, que desencarnei, mas não conseguia entender nada. 


Não sabia orar; o pouco do Evangelho que conhecia não me vinha à mente, pois nunca prestara atenção nele. Encarnado, ria das pessoas religiosas, mas não fui mau. Se não fiz o bem, tampouco fiz o mal. Fui pego por entidades maldosas e levado para uma cidade do Umbral, como escravo. Tinha que fazer certos tipos de trabalhos para eles. Anos fiquei assim, até que entendi tudo: a vida continua após a morte do corpo e Deus existe. Cansado de sofrer, recorri a esse Deus em que não acreditava, que é nosso Pai Amoroso.

O socorro não veio de imediato, mas não desisti, a cada dia, com mais fé, clamei por auxílio. Fui
socorrido, levado a um Posto. Agradecido e querendo ficar bom, recuperei-me e passei a ser útil. No Posto fiquei muito tempo. Depois vim para a Colônia trabalhar. Mudei muitas vezes a forma de trabalho, para conhecer como é viver por aqui.


Tendo conseguido pelo meu trabalho elogios, porque nunca fui preguiçoso, e trabalhar forçado como escravo é bem penoso, mas aprende-se a trabalhar, pedi para estudar.

Penso que se conhecer este mundo maravilhoso posso firmar minha fé e ser útil com maior segurança.


Desencarnei há quarenta e cinco anos, vinte e cinco anos sofri vagando e no Umbral. Vinte e cinco
anos é muita coisa, mas foi justo. Quem descrê de tudo só é acordado pelo sofrimento."


Ivo - indagou Luíza, se você tivesse sido mau, iria sofrer mais?


- Certamente que sim, acredito que mais e por mais tempo.


Terezinha falou de sua desencarnação. Ela é calma, fala mansa, é muito simpática:


- Era muito religiosa, gostava muito de orar, mas infelizmente a religião não me ensinou o que seria a
morte. Tive um câncer generalizado, que me causou muito sofrimento.


Aí, indagava a mim mesma: "Por que sofro tanto?


Deus está sendo injusto comigo?" Procurava
fortalecer-me na fé, mas não entendia, e a fé sem raciocínio é difícil de manter. Desencarnei e fui levada para um Posto. Melhorei logo, mas pensava ainda estar encarnada e me curando. Quando me falaram que desencarnei, não acreditei; depois, ao pensar e analisar, fiquei tremendamente decepcionada por não ser como pensava e me tornei apática. Não queria nada, não queria escutar ninguém e pensei novamente: "Que adiantou ter sido boa e devota? 


Deus estaria sendo justo comigo?" Os orientadores do Posto levaram-me a uma reunião espírita. No Centro, vi muitos mutilados e sofredores e escutei do orientador: "Vê como valeu ter sido boa e devota? Observe bem que muitos, ao terem o corpo morto, não tiveram a cura como você, não foram levados para um socorro". Fiquei olhando tudo curiosa, não me incorporei, só escutei, e voltei diferente. Muitas vezes fui às reuniões e, juntamente com orientadores, fui conhecer o Umbral. 

Melhorei, saí da apatia e pude saber que minha desencarnação com sofrimento foi para quitar o passado de erros.

O mundo espiritual me fascinou, e de ajudada passei a ajudante; hoje tenho a graça de estar
aprendendo para servir com mais sabedoria.


Ilda, com simplicidade, narrou sua desencarnação:


- Estava feliz, casada com o homem que amava, e minha casa era um sonho. Ao ficar grávida sentime
a mais feliz das mulheres. Meu parto complicou e desencarnei, após ter tido uma menina. Fui socorrida e levada, após a morte do meu corpo, para um Posto de Socorro. Como sofri. Esforçava-me para não me revoltar. Sentia o choro dos meus pais e do esposo. 


Deixar tudo, quando se é feliz, não é fácil; só se tivermos compreensão, como Patrícia, que também era feliz e continuou sendo. Meus pais pegaram a menina, minha filha, para criar, e meu esposo voltou para a casa de seus pais. Sentia tanta falta deles, queria tanto ter cuidado, acariciado, pegado e amamentado minha filha. Queria estar encarnada! 

Só pensando neles, não dei atenção a mais nada. 

Tive de ser doutrinada, através de uma incorporação, num Centro Espírita, e fazer um tratamento com um médico psicólogo aqui. Só aos poucos fui me acostumando. Meu esposo casou-se de novo e tem outros filhos; minha filha já é uma adolescente.

Agora amo viver aqui, mas não foi fácil. Tudo o que passei foi um aprendizado difícil, mas necessário ao meu espírito.


A desencarnação é o nascer do espírito para o mundo espiritual. Tivemos aula de anatomia.


Estudamos os pontos de força e vimos em filmes como se faz para desligar o perispírito do corpo morto. As equipes de socorro que fazem esse desligamento reúnem-se normalmente em grupo de três a quatro socorristas. Para trabalhar nesse processo, fazem longo estudo e treinamento, e só podem realizar o desligamento, imediato, de poucas pessoas. Por isso, não são muitos nessas tarefas.


Vimos o trabalho deles em filmes, quando faziam vários desligamentos.

Depois desse curso, qualquer um de nós poderia desligar alguém após seu corpo ter morrido, mas não devemos fazer isso sem ordem superior. É bom saber! Saber é poder fazer!


O desligamento se faz de várias formas. Minutos apos a morte do corpo, alguns dias ou meses. Isso
depende do merecimento de quem desencarna.


Estudamos muito a parte do corpo humano e, utilizando bonecos, vimos como se faz o desligamento.


Esses bonecos são cópias fiéis do corpo humano e do perispírito.


Entendemos perfeitamente como funciona o corpo físico, o que ocorre com ele e como se desintegra.
Impressionei-me ao ver, em filmes, o desligamento de pessoas que se suicidam. Sempre é muito
tempo após a desencarnação. Que triste! É a pior desencarnação, embora seja cada caso um caso.


Mas sofre muito quem pratica esse crime contra si mesmo.

A aula teórica foi muito boa e esperava ansiosa pela aula prática.

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